sexta-feira, 6 de maio de 2011

Revelação

Sempre consegui bem deflagrar meus sentimentos, afogar meus desenganos e açoitar meus devaneios com um lápis na mão e um papel sobre a mesa, parecia-me que minha alma ganhava forma em grafos e fonemas, por vezes é bem verdade que lançaria mão de hieróglifos, talvez o inatingível, indecifrável, mas ainda sim reflexos de mim mesma.
É curioso como o pensamento nos leva a um mundo de criação, falo do pensar calculado, pautado, cauteloso, cuidadoso, atemporal, nele grandes revelações se cumprem, alivia as dores, do contrário, a corrida, o atropelo de idéias e a desordem massacram os milionésimos de dessemelhanças embutidos, encravados na gruta de cada ser pensante.
Talvez este texto que vos ilustre os olhos, seja um exemplo do indecifrável mencionado outrora, mas ainda sim deve conter um pouco de mim. Começo por revelar não pensamentos, mas sentimentos e emoções. Já conheço a larva que me queima e o águas que me alivia, sentir vai muito além do que possa revelar o maior órgão do nosso corpo inerte, não, não, o coração não representa o sentir, a pele sim. O coração palpita, acelera, pula rápido e forte apenas para que o corpo não esmoreça enquanto a pele padece de amor, e o amor?
Falemos do amor já que iniciaria mencionando sentimentos. Nasceu uma lua em qualquer dia desses da primavera, era brilhante e me piscava os olhos lânguidos da noite, naquele dia o sorriso me era largo, dentes brancos e lábios rosáceos, reflexo de espelho que guardo de mim mesma, os meus olhos que dizem de mar, maré, que pode ser de simples capim, erva, eles nem almejavam grandes vislumbres trazidos pela lua, os ouvidos, no entanto, já havia sido bem regados de cânticos de luz, êxtase... – mas por que teimas lua insolente? Porque me trazes imagens que caroçam-me a pele e perturbam meu pensar? Condenada estas a velar-me por todo o sempre.
Daqui, minha visão perde o sentido, o caminho me leva por onde não sou capaz de guiar-me, muletas são necessárias para o meu equilíbrio, as pernas por vezes capengam, a surdez me toma, flechas me atingem o corpo, e o caminho não me da idéia da fita rompendo em meu ventre, sem chegada, só a largada me é permitida...pooh, o tiro me atingiu, mas o ser segue seu caminho.
Seguir dando passos, essa é a regra, um a um, o retorno não nos é permitido, tão pouco almejado, palpita coração criado, para que essa pele não esmoreça, permaneça tesa, eriçada, duas peças, uma lâmina, um esfregaço, um favo de mel, que escorrega das entranhas dos caules e pernas que ilustram e movimentam aquele caminho...ah! caminhar é preciso e necessário, a união libera essências fatais a ela...não, não esmoreça, pele minha, sacuda coração alado, saia pelo doces beijos, digo lábios, ventila esse ar que me dá fôlego, me tira o chão, me dá o céu...flutuo.
O ser amado é tão único, tão peculiar, raro, encomenda do divino para cada vida que foi iluminada pelo atrevimento da lua insolente, tanto que traz outros sentimentos arraigados, acoplados, talvez maiores, talvez menores, nobres, plebeus, mas ainda sim, é sentir de quem ama, a proteção se dá por definição, minha, através do sufoco, do impossibilitar do seguir e pensar, mas pensar é transgredir, o indecifrável me toma novamente. Sou impura, medíocre, insana e apaixonada... Meu coração pula, pula, para que minha pele não esmoreça, tenho o visco, o lustro, o sentir por você.

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