sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sem Chance

Era uma tarde escura do inverno de 1985, o céu cinzento trazia lembranças mórbidas de tudo que fora triste, por toda uma vida, sentada em uma poltrona coberta de tecido àspero, bordado de árvores mortas, apenas galhos, lado a lado, a madeira suava, chorava talvez, durante seu balanço surgiam gemidos, rangidos. Daquele ângulo o horizonte enquadrado, sem cores, gris. Me pus a pensar que já se passara 72 anos, e como foi rápido, abrupto, sem chance alguma. Pensei, lembrei que tive sonhos, que me vesti de vermelho, que minha face já tivera sido emoldurada por madeixas douradas e esvoaçantes, meus lábios já tivera sido quentes e molhados e meu corpo, Ah! Meu corpo, cálido, férvido, inquieto, ofegante, suntuoso...mas como passou rápido, abrupto, sem chance. Lembrei que já quis viver colorida, livre, solta, já quis enlouquecer, enriquecer, já quis amar homens, já quis amar mulheres, já saltei fogueiras e nelas também já me queimei, já quis chegar ao fim e ao começo, quis ser amada, abandonada, já fui Feliz...não, não fui feliz, quis sem nunca ter sido. Da janela agora vejo a noite se aproximando, com ela vem a pobreza das lembranças, e de novo o "nada fiz", o corpo mal respira, triste daquele que passa pela vida sem marcar sua história com o desejo almejado, triste da poltrona de tecido áspero que vive a gemer, já não balança, sua madeira não chora, perco o olhar, perco o som...já se passara 72 anos, e como foi rápido, abrupto...Nem tive Chace!

Relaxei

Tudo frio, cama vazia
Ter você eu queria
Multiplicado em mil bocas
Gosto de desejo, vermelho
Palpita ao ritmo ofegante
Movimenta o cheiro, inebriante
Quero você multiplicado em mil
Olhos que despem
Entrega líquida e quente
Escorre mil vezes em mim
Minha vontade sugada
A sua aspirada
Espirais e sons, sussurros
Dedos que sentem
Corpos que tremem
Atravessei minha ponte
Cheguei ao meu destino
Relaxei